16/06/2017

À conversa com... Drª Rita Viana, Terapeuta da Fala

A Drª Rita Viana colaborou com O Sítio da Fala para que todos possamos conhecer melhor o seu percurso profissional. É uma privilegiada por trabalhar num local tão diferente e especial quanto os doentes que frequentam a sua consulta. Sem ter noção disso, a Rita é uma das responsáveis por eu também ser terapeuta da fala -  ouvi, desde cedo, as suas histórias e conquistas que sempre foram tão motivadoras.
Aqui fica o seu testemunho!

P - Como apareceu a Terapia da Fala na tua vida?

R - A terapia da fala surgiu de uma forma muito natural na minha vida. Como sabes tenho pessoas próximas da minha família que trabalham na área de reabilitação. Uma colega de curso da minha irmã tinha uma amiga terapeuta da fala, e achava que era uma área que tinha a ver comigo e, na verdade, é uma profissão que me preenche muito do ponto de vista pessoal e profissional. Naturalmente meu pai também acabou por ajudar em relação a esta escolha.

P - Consegues imaginar-te sem esta profissão?

R - Sinceramente não. Já lá vão 16 anos de terapia da fala e a trabalhar no IPO-Porto. Continuo a gostar imenso do que faço. Todos os dias há desafios novos, o que é bastante estimulante do ponto de vista profissional e pessoal.

P - Trabalhas com uma população muito especial. Como é o teu dia-a-dia profissional?

R - Antes de mais devo dizer que sou a única terapeuta da fala do IPO-Porto e estou integrada em dois serviços, o de ORL e  de MFR, onde faço atendimento na consulta de ambulatório e no internamento. O objectivo da terapia da fala nos serviços em questão é a reabilitação de todos os doentes que tenham indicação de reabilitação quer por disfagia, perturbação da fala ou disfonia/ afonia como sequela do tratamento de cancro da cabeça e pescoço, que são a maioria, quer por outras patologias como afasia por tumor cerebral, paralisia das pregas vocais pós cirurgia à tiróide, cardio-torácica ou porção superior do esófago, ou perturbação da fala ou linguagem em crianças. Como vês, tenho um leque muito abrangente de pacientes, mas a maioria, como disse anteriormente, são pacientes com cancro de cabeça e pescoço. Torna-se muito importante estar integrada no serviço de ORL para que a intervenção seja o mais célere possível. Faço consulta pré-operatória nos doentes propostos para laringectomia total o que permite explicar a consequências da cirurgia e seleccionar o melhor método de reabilitação vocal nessa consulta, inicio reabilitação nos doentes com disfagia no internamento e mantenho acompanhamento em consultas de ambulatório durante a radioterapia e follow-up, e tenho um trabalho próximo com a equipa de enfermagem na consulta e internamento, havendo encaminhamento de ambas as partes conforme as necessidades dos doentes. Portanto, o meu trabalho não tem nada de rotineiro.

P - Qual é a característica que mais te diferencia?

R - Boa pergunta. Sinceramente acho que o saber ouvir se torna muito importante para esta população de doentes, que geralmente têm dificuldade em ser compreendidos no meio familiar e social. São doentes que têm tendência ao isolamento social, e o saberem que alguém tem facilidade em compreendê-los dá-lhes segurança e conforto, bem como ajuda a criar um laço de empatia entre o doente e a terapeuta. Alguma dose de paciência também é importante porque os resultados terapêuticos por vezes são tardios e não é fácil para o doente gerir esta "espera". Nesse sentido, acho que o ser boa ouvinte e paciente ajudam e são características naturais em mim, acho eu.

P - Na nossa profissão temos doentes que nos marcam. Existe algum de que te lembres mais?

R - Tenho muitos doentes que me marcaram, mas uma que me ficou na memória foi uma menina de 12 anos que me "adoptou" desde a primeira consulta. Infelizmente a doença venceu, mas pude fazer um acompanhamento profissional e pessoal desde o momento que a conheci até ao momento da morte. Cresci muito do ponto de vista pessoal com esta princesa. Lembro-me também de um senhor que era jornalista e foi submetido a laringectomia total sem prótese fonatória, e que foi um desafio. Devo dizer que é dos doentes com melhor voz esofágica que conheço, mesmo após um período difícil de adaptação. Existem casos graves de doente submetidos a grandes cirurgias da cavidade oral  que estão reabilitados e bem, ou doentes laringectomizados totais com vozes fantásticas. Naturalmente que esses doentes nos motivam e servem de exemplo para outros que ainda estão no processo.

P - Se bem te conheço, desejas sempre mais e melhor. Quais são as ideias e projectos para o futuro?
R - O projecto futuro é continuar a trabalhar da melhor maneira possível tendo em conta os recursos humanos e materiais existentes. Provavelmente se houvesse outro terapeuta da fala poderia organizar uma consulta pré-operatória para todos os doentes, poderia acompanhar os doentes propostos para tratamento não cirúrgico, poderia acompanhar os doentes paliativos ou de outras especialidades. Se houvesse mais ORL's talvez pensar numa consulta de disfagia. Há muita coisa que gostaria de ver concretizada, e que espero que se torne uma realidade um dia. Compreendo que existem outras carências no hospital que são prioritárias, por isso vou lutando e aguardando pela minha vez.

20/02/2017

Revisão de livro - "Linguagem Escrita - Atividades de Conhecimento Fonológico"


FICHA DO LIVRO
Título: Linguagem Escrita - Atividades de Conhecimento Fonológico
Autores: Rosa Lima; Carmélia Cunha
Editora: Lidel
Ano: 2017

É um livro prático dirigido a pais, professores e técnicos. Começa com uma introdução com racional teórico e instruções sobre a utilização do livro. É composto por 20 unidades, cada uma com seis fichas.
As actividades focam-se nas competências fonológicas associadas à oralidade e escrita. No final são apresentadas as soluções.
Os conjuntos de grafemas que as autoras seleccionaram são aqueles que encontramos com mais frequência na clínica.
Cada ficha tem uma quantidade suficiente de estímulos para o tempo de atenção de uma criança típica.

Este tipo de livros permite aumentar a velocidade do fluxo de trabalho do terapeuta.
É urgente a publicação de outros trabalhos assim para aumentar a qualidade dos estímulos que apresentamos aos clientes. A quantidade de estímulos de cada ficha permite ainda a repetir com intensidade cada objectivo - aumentando, naturalmente, a eficácia da terapia. Creio que tornará as sessões são mais produtivas e a intervenção indirecta mais eficaz, uma vez que podemos usar as actividades em regime de prescrição.